quarta-feira, 15 de junho de 2011

Notícia sobre a MOL na Revista Time Out

A Marcha já não fala de casamentos


Uma data de gente com cartazes na mão? A Marcha do Orgulho LGBT é mais do que isso. E Bruno Horta explica porquê.


A Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa chega à 12ª edição com menos alvoroço e uma visão mais abrangente dos direitos LGBT – depois de várias edições totalmente dominadas pelo tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que vigora desde 7 de Junho de 2010. Voltará a exuberância dos travestis, ausente em 2009 e 2010? Saberemos este sábado, a partir das 17.00.



A Marcha começa no Jardim do Príncipe Real, desce ao Chiado e termina na Praça da Figueira. Aí será feita, pela primeira vez, uma festa pós-Marcha, com comes e bebes e distribuição de propaganda, adianta Magda Alves, activista da associação Não Te Prives e membro da Comissão Executiva da Marcha.


Como todas as iniciativas do género que decorrem em várias cidades do mundo por esta altura do ano, a Marcha pretende celebrar a “Revolta de Stonewall”, a 28 de Junho de 1969, quando homossexuais e travestis se revoltaram contra uma rusga da polícia de Nova Iorque ao bar Stonewall Inn. A data marca o início simbólico do movimento gay actual.


Novidade é o facto de o Manifesto da Marcha do Orgulho LGBT 2011 de Lisboa, subscrito por 21 associações e colectivos de defesa dos direitos humanos, falar sobre infecções sexualmente transmissíveis. “As pessoas LGBT não têm tido respostas adequadas às suas especificidades no que toca ao VIH/sida e outras infecções”, lê-se no documento. Segundo Magda Alves, a inclusão deste tema resulta de um “contributo específico” do Grupo Português de Activistas Sobre Tratamentos de VIH/sida (GAT) – numa altura em que os números da ONU demonstram um claro aumento do número de novas infecções entre homo e bissexuais na Europa Ocidental.


O manifesto intitula-se “O Arco-Íris Está na Rua” e não refere a palavra “casamento” uma única vez. Reivindica, sim, a adopção, co-adopção e procriação medicamente assistida, três formas de acesso à parentalidade actualmente vedadas aos casais homossexuais casados ou unidos de facto e às mulheres solteiras. O facto de a co-adopção (perfilhação de filhos do cônjuge) ser referida no manifesto antes das outras duas reivindicações “não foi premeditado”, diz Magda Alves. Mas há um mês, num debate público promovido pela associação ILGA-Portugal, um representante do PS, Pedro Alves, disse que para o seu partido são prioritárias as alterações legislativas que permitam a co-adopção por homossexuais, enquanto a adopção terá de esperar pelo fim da próxima legislatura, ou seja, só em 2015.


“O manifesto pretende dizer que as mudanças legislativas que reconhecem os direitos LGBT são necessárias e importantes, mas têm, acima de tudo, de ter reflexos práticos, o que implica mudanças sociais e culturais que ainda é preciso fazer em Portugal”, afirma Magda Alves. Fernando Rosa, do colectivo Panteras Rosa, diz que a Marcha “não terá este ano um tema específico, devido a divergências de opinião entre as 21 associações”. Fica ao critério de cada uma. “Pela parte das Panteras Rosa, vamos defender dois temas centrais: o combate às medidas de austeridade, porque ao atacarem os direitos dos trabalhadores atacam em especial as minorias sexuais, e a ‘despatologização’ das identidades de género”. Isto é, a retirada da transexualidade do catálogo de doenças mentais da Organização Mundial de Saúde e da Associação Americana de Psiquiatria.


Quanto a números, Magda Alves e Fernando Rosa dizem que o objectivo é o de ter ainda mais pessoas do que noutros anos. Sem rigor, terão sido duas mil em 2009 e um pouco mais em 2010.


Tal como nas últimas duas edições, a Marcha acontece uma semana antes da maior festa LGBT do país, o Arraial Pride, da responsabilidade da associação ILGA-Portugal e que terá lugar no Terreiro do Paço a 25 de Junho. Durante nove anos, realizaram-se no mesmo dia. Entretanto, a 9 de Julho, sairá à rua a Marcha LGBT do Porto, em sexta edição.


Marcha do Orgulho LGBT 2011 de Lisboa. Sáb, 17.00. Jardim do Príncipe Real. Blogue oficial: http://marchaorgulholx2011. blogspot.com   

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